::.Galeria do Reggae
Discoteca Básica Um guia com as
50 obras essenciais do reggae que faz o mundo balançar
há três décadas.
Selecionamos os trabalhos mais autênticos, revolucionários,
inteligentes e - acima de tudo - divertidos deste gênero
que saiu da Jamaica para fazer sua cabeça, ganhar seu
coração e suas pernas Vários Respect
To Studio One (Heartbeat) O Studio One foi o vestibular dos
grandes astros da Jamaica.
Capitaneado por Clement Coxsone Dodd, o selo abrigou gente
supimpa como Bob Marley, Marcia Griffiths e Lee Perry. A coletânea
traz estes e outros artistas, acompanhados pelos lendários
Skatalites. É colocar no CD player e se deliciar com
o romantismo de Ken Boothe (``Moving Away´´),
os primeiros trinados de Burning Spear (``Fire Down Below´´)
e uma releitura pelos Skatalites de ``I Should Have Known
Better´´, dos Beatles.
Bob Marley And The Wailers One Love (Heartbeat) A coletânea
cobre o período em que Bob Marley, Peter Tosh e Bunny
Wailer estiveram na gravadora de Coxsone Dodd. Os Wailers
mostram suas influências de doo wop, ska e rock steady
interpretando clássicos aboriígines (``Simmer
Down´´ e ``I´m Stil Waiting´´)
e músicas inéditas. Aqui, a curiosidade fica
por conta da versão abolerada de ``And I Love Her´´,
pedrada dos Beatles. King Tubby King Tubby´s Special
1973 - 1976 (Trojan Records) Fãs dos efeitos inebriantes
do baixo, louvemos a memória de Osbourne Radddock!
Este homem, que adotou codinome de King Tubby, é o
responsável pela invenção do dub, a perversão
do reggae que até hoje faz a cabeça do pessoal
iniciado.
King Tubby´s Special, um CD duplo, abarrotado de grooves
federais, traz algumas das invenções do chapeleiro
louco ao lado dos Aggovators - hoje conhecidos como Sly &
Robbie. De lambuja, ouvimos as intervenções
amalucadas de U-Roy, o pai de todos os DJs jamaicanos. Depois,
é só lamentar a perda de Tubby, estupidamente
assassinado em 1989, durante uma treta no gueto. Alton Ellis
Cry Tough (Heartbeat) Alton Ellis começou no Studio
One para em seguida se tornar um dos cavalos de batalha de
Duke Reid - o rival de Coxsone Dodd no império do reggae.
Ellis é basicamente influenciado pela soul music, apesar
de sua carreira ser mais centrada em ska e rock steady.
No CD, que cobre o período 1967-1968, ele enternece
até o mais punk dos ogros nas faixas ``Breaking Up´´,
``Why Byrds Follow Spring´´ e ``Ain´t That
Loving You´´. Desmond Dekker Rockin´ Steady
- The Best Of Desmond Dekker (Rhino Records) Desmond Dekker
foi um dos primeiros artistas jamaicanos a emplacar em terras
inglesas - com o single ``The Israelites´´, de
1968. Ele também demonstrou pioneirismo ao cantar os
problemas do gueto - ``(007) Shanty Town´´ - e
gravar o clássico de Jimmy Cliff ``You Can Gt I If
You Really Want´´. As faixas dessa coletânea
datam da época mais rica do cantor, na passagem dos
anos 60 para os 70, quando Dekker era empresariado por Leslie
Kong.
Lee Perry Scratch Attack! (RAS) King Tubby criou a dub music
e Lee Perry tratou de inventar as normas e padrões
do reggae. Scratch Attack junta no CD só dois álbuns
memoráveis de Perry, Scratch And Company e Blackboard
Jungle Dub. As esquisitices reinam (há ruídos,
ecos em profusão, brincadeiras com um dos temas de
Os Três Patetas), o baixo de Aston ``Family Man´´
Barret desce a níveis timbrísticos que nem os
cães conseguem ouvir e Perry perpetra um álbum
clássico. Augustus Pablo Rockers Meets King Tubby´s
In a Fire House (Shanachie) Augustus Pablo é o codinome
de Horace Swaby, um dos bambas da escaleta - espécie
de teclado usado como instrumento de sopro.
O encontro de Pablo com o pai do dub King Tubby produz faísca
e uma penca de clássicos viajandões: ``Selassie
I Dub´´, ``Zion Is A Home´´. Bob Marley
& The Wailers The Upsetter Record Shop Part 1 & 2
(ESOLDUN) Bob Marley sem o verniz que a Island lhe aplicou.
O rei do reggae une forças com Lee Perry e manda ver
em clássicos, acompanhados das devidas versões
dub. Vários deles foram regravados em álbuns
posteriores de Marley: ``Concrete Jungle´´ (aqui,
com tambores rasta), ``Put It On´´ e ``Rock My
Boat´´ - que virou ``Satisfy My Soul´´
... Upsetter Record Shop traz as primeiras colaborações
do rastaman com a dupla Aston e Carlton Barret. The Abyssinians
Satta Massagana (Heartbeat) Os Abyssinians se destacam entre
trocentos rastas jamaicanos por harmonizarem de forma angelical,
além de responsáveis por um dos clássicos
da filosofia rasta - ``Satta Massagana´´. Este
CD é a nova versão do seminal Satta, de 1975,
com quatro faixas extras, além da bela ``Declaration
Of Rights´´. Vários Harder They Come (Island)
Trilha sonora do filme homônimo (que no Brasil recebeu
o nome de Balada Sangrenta), The Harder They Come colocou
a Jamaica no mapa da música. Revelou também
o estranho mundo dos rude boys, delinqüentes saídos
das favelas de Kingston.
Os hits saem os borbotões: Jimmy Cliff é o
campeão, com ´´Many Rivers To Cross´´,
``You Can Get It If You Really Want´´ e ``The
Harder They Come´´ - que nas mãos de Titãs
e Cidade Negra virou ``Querem Meu Sangue´´. Há
também Toots &The Maytais, Melodians, Slickers
etc. Vários Beyound The Front Line (Virgin Records)
O título desse disco poderia ser: ``Bob Marley é
absoluto, mas está na hora de você conhecer outros
produtos da ilha´´. Tem Gladiators (``Look Is
Deceiving´´), Mighty Diamonds (a linda ``Right
Time´´, um Gregory Isaacs se derramando em romantismo
(``If I Don´t Have You´´); o produtor Keith
Hudson brilha em ``Civilization´´ e o DJ U-Roy
versa sobre a eterna ``Soul Rebel´´, de Bob Marley
& The Wailers - aqui numa releitura dos Gladiators. Isso
sem falar em Prince Far-I, Culture e outras pepitas rastas.
Bunny Wailer Blackheart Man (Solomonic Records) É a
primeira investida solo de Bunny Wailer, depois de abandonar
a trupe do amigo Bob Marley. E que estréia! A banda
tem em sua formação Peter Tosh (guitarras),
Carlton Barret (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo). Bunny
faz uma declaração de amor ao rastafari, eternizando
hinos como ``Dreamland´´ a faixa-título.
Peter Tosh Bush Doctor (Rolling Stones Records) Peter Tosh
detona num trabalho clássico. A banda é um primor:
tem Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, além do auxílio
vocal dos Tamlins. Keith Richards dá canja nas guitarras
e Peter Tosh manda os hits ``Bush Doctor´´, ``Pick
Myself Up´´, ``Creation´´ e muito
mais. Black Uhuru Sinsemilla (Island) O trio vocal Black Uhuru
foi o rei da cocada preta na primeira metade dos anos 80.
Sinsemilla é um dos melhores retratos dessa época.
Michael Rose brilha nos vocais principais, auxiliado pelas
harmonizações de Puma Jones (divina) e Duckie
Simpson. Em meio a essa seleção, os gols saem
com facilidade: ``Sinsemilla´´, ``World Is Africa´´,
``Happiness´´; atente para Skakespeare esmerilhando
no baixo em ``Vampire´´. Dennis Brown Words Of
Wisdom (Shanachie) Dennis Emmanuel Brown é conhecido
como ``O Príncipe do Reggae´´. Foi um dos
sérios candidatos ao posto de novo Bob Marley quando
o rei do reggae se mandou para o Monte Sião. É
só ouvir Words Of Wisdom para saber por quê.
Brown coloca seu vozeirão a serviço de belas
canções, como ``Cassandra´´, ``So
Jah Say´´, ``Should I´´ e ``Money
In My Pocket´´. Burning Spear 100th Anniversary
(Island) Marcus Garvey é um dos álbuns seminais
da história do reggae. Burning Spear chora as mazelas
da escravidão (``Slavery Days´´), lembra
dos feitos de Marcus Garvey (ideólogo rasta) e coloca
seu nome no panteão do reggae. 100th Anniversary é
uma edição especial, que traz Marcus Garvey
e sua versão dub num único CD.
Inner Circle Reggae Thing (Epic) Bem antes de estourarem nas
paradas, os gordinhos do Inner Circle já tinha alto
crédito entre a moçada do reggae. Boa parte
desse sucesso se devia ao carisma do vocalista Jacob ``Killer´´
Miller, um dos melhores amigos de Bob Marley - e canário
precioso.
Reggae Thing é um dos grandes álbuns do Inner
Circle inicial. Cânticos rastafari com tendência
soul - ``Love Is The Drug´´, ``Jah Music´´
- e músicas clássicas como ``Tenement Yard´´
e ``80 000 Careless Ethiopians´´ dão o
tom. Uma curiosidade: o álbum tem participação
especial do guitarrista Neal Schon, um dos líderes
da banda de rock baba americana Journey.
Max Romeo War Ina Babylon (Island) Uma parte importante da
história da Jamaica está contada nesse disco.
War Ina Babylon nada mais é que um retrato das brigas
políticas que corroíam a ilha em 1976, quando
os militantes dos dois maiores partidos locais se pegavam
na rua. Max Romeo manda uma interpretação poderosa,
que o afirmou como um dos vocalistas mais carismáticos
do ritmo de Jah. Há de se destacar também a
produção de Lee Perry, além dos vocais
da grande dama Marcia Griffiths. Vários Tougher Than
Tough: The History Of The Jamaican Music (Island) Bíblia
do reggae, documento histórico, coletânea básica.
Qualquer adjetivo usado para definir essa coletânea
com quatro CDs é obsoleto perto de sua importância.
Tougher Than Tough tem acabamento caprichado, com textos de
Chris Blackwell - o capo da Island Records e patrão
de Bob Marley, Black Uhuru e outros -, do poeta dub Linton
Kwesi Johnson (veja quem é ele logo abaixo) e do especialista
em reggae Steve Barrow. A música é um caso à
parte. A caixa dá mostras do poder cíclico do
reggae - não por acaso, ela começa e termina
com ``Oh Carolina´´, cantada pelos Folkes Brothers
e pelo DJ Shaggy. Os ídolos estão todos ali:
Skatalites, Bob Marley, Dennis Brown, Shabba Ranks...
As únicas exceções, talvez por causa
de problemas contratuais - ou pura incompatibilidade com Chris
Blackwell - são Peter Tosh e Bunny Wailer. Tirando
esse vacilo, a caixa é perfeita. Ela faz você
compreender melhor as mudanças musicais da Jamaica:
o ska virando rock strady, o reggae dando seus primeiros passos
e o apogeu do dancehall. Uma coletânea para catequizar
qualquer incrédulo. Gregory Isaacs Night Nurse (Island)
Imagine se Roberto Carlos, ao invés de lançar
seu manjado CD anual, tivesse trabalhado com Liminha nos anos
80 e Dudu Marote (ou Memê) nos anos 90. Trocasse as
babas por compositores ousados. Ele teria a mesma importância
que Gregory Isaacs para a música jamaicana. Conhecedor
do caminho do coração feminino, Gregory trabalha
com o que a ilha tem de melhor. Night Nurse é clássico
desde seu nascimento, com auxílio de Wally Badarou
- o produtor de Carlinhos Brown. Hits: ``Stranger In Town´´
e ``Night Nurse´´. Yellowman King Yellowman (Sony
Music) Winston Foster tirou a música de sacanagem do
gueto e levou para as paradas de sucesso dos Estados Unidos.
Durante anos Yellowman foi dono da coroa que hoje repousa
na cabeça de Shabba Ranks e Buju Banton. Este disco
conta com as colaborações preciosas de Afrika
Bambaata e Bill Laswell (do Material). O repertório
de King Yellowman até hoje é repetido ad nauseam
nos shows que o DJ faz por este mundo afora. Coisas de respeito
como ``Strong Me Strong´´, ``Country Roads´´
e ``Mi Belief´´. Sly & Robbie Rhythm Killers
(Island) A cozinha mais poderosa da história do reggae
se enfronha no mundo do funk. Sly Dunbar (bateria) e Robbie
Shakespeare (baixo) chamam Bill Laswell, Shinehead e Bernard
Fowler (hoje vocalista de apoio dos Rolling Stones) para cometer
um dos melhores trabalhos dos anos 80. Repertório:
``Fire´´ (musicão do grupo americano Ohio
Players), ``Yes We Can Can´´ (do soulman Allen
Toussaint) e músicas próprias da dupla, que
manda os grooves mais contagiosos do planeta. Linton Kwesi
Johnson Bass Culture (Mango/Island) Linton Kwesin Johnson,
jamaicano radicado na Inglaterra, é o pai da poesia
dub. Explicando: o homem joga suas rimas ativistas com métrica
e ritmo de reggae - e dos mais arretados. Mas ele não
está sozinho na empreitada: se faz acompanhar pelo
baixo mágico de Dennis Bovell, que andou mixando até
disco do Rappa.
O próprio Linton deu suas colaborações
à música brasileira, recitando com seu vozeirão
tonitroante em Severino, o injustiçado álbum
dos Paralamas do Sucesso. Bass Culture é um doce de
coco - em que se destacam maravilhas como ``Reggae Sounds´´,
``Inglan Is A Bitch´´ e ``Bass Culture´´.
Steel Pulse True Democracy (Elektra) True Democracy é
o ponto alto do grupo inglês: canções
de cunho rastafari (``Chant A Psalm´´, ``Leggo
Beast´´) embaladas pela voz límpida de
David Hinds e as pancadas certeiras do baterista Steve Nesbitt.
Ouça e descubra por que o Steel Pulse foi a igrejinha
de gente como Sting e Cidade Negra. Aswad Live And Direct
(Island) Reggae de primeiríssima categoria, tocado
sem firulas e de que leva o público ao delírio.
Live And Direct é um dos grandes álbuns ao vivo
de todos os tempos.
O Aswad defende a filosofia rastafari (``Not Guilty´´,
``Not Satisfied´´), manda um medley de pedradas
(``Rockers Medley´´) e pinta o sete em ``African
Children´´. The Police Reggatta De Blanc (A&M/PolyGram)
O Police não segue a filosofia rastafari, não
canta as mazelas do povo negro, mas gravou um disco básico
para se entender o tal ``reggae de branco´´. O
álbum mistura a fúria do punk com o suingue
jamaicano e dá a luz a faixas clássicas. ``Walking
On The Moon´´ até hoje freqüenta os
playlists das FMs pops do país e ``The Bed´s
Too Big Without You´´ foi vertida para o jamaicanês
pela cantora Sheyla Hilton. UB40 The Best Of Vol. 1 (Virgin
Records) Os rastamen mais radicais costumam torcer o nariz
para o som do UB40.
Mas o reggae com tendências pop desse grupo oriundo
de Birmingham tem sua importância para o aumento da
popularidade do ritmo no mundo todo. Essa coletânea
tem de tudo: clássicos jamaicanos, como ``Red Red Wine´´
(primeiro lugar nas paradas americanas) e reggaes-pop bacanas
do tipo ``Rat In Mi Kitchen´´ e ``I Got You Babe´´.
King Jammy A Man And His Music Vol. 2 - The Computer Style
(RAS) Tudo que você gostaria de saber sobre o dancehall
está aqui. Jammy inventou uma batida em seu tecladinho
Casio e mudou a história da música jamaicana.
``Under Mi Sleng Teng´´ teve sua batida copiada
por N produtores mas não elevou seu cantor, Wayne Smith,
à categoria de superstar. Computer Style dá
uma boa dimensão do trabalho de Jammy como produtor.
Brilham DJs de boa safra, como Lieutnant Stitchie, Dominic
e Nitty Gritty (morto durante um tiroteio com o também
DJ Supercat). Vários Hardcore Ragga Vol. 1 (Greensleeves)
O supra-sumo do produtor Augustus ``Gussie´´ Clarke
e seu compositor, Hopeton Lindo. O CD traz os hits mais vibrantes
da Jamaica no início dos anos 90. Aqui você confere
os primeiros passos de Shabba Ranks em direção
ao estrelato (``Mr. Lover Man´´), os trinados
de respeito de J.C. Lodge (``Telephone Love´´),
um hit magistral de Gregory Isaacs (``Rumours´´)
e o brilho de cantores como Deborahe Glasgow e Cocoa Tea.
Maxi Priest Best Of Me (Tem Records/Virgin) Maxi tem sangue
azul do reggae nas veias - é sobrinho de Jacob Miller,
o falecido cantor do Inner Circle. É também
uma das figuras que mais batalha pela internacionalização
do reggae, passando do roots reggae (presente em seu álbum
de estréia) a trabalhos com Aswad, Sly & Robbie
e Soul II Soul. Best Of Me dá uma geral nos pontos
mais altos da carreira do cantor, bem ilustrados em ``Close
To You´´ (número na parada americana em
1990), o dueto com o soulman Beres Hammond (``How Can I Ease
The Pain´´) e a regravação de ``Wild
World´´, que o transformou em mestre do reggae
chamego. Alpha Blondy Jerusalem (EMI Music) A África
foi o continente que mais assimilou as lições
de Bob Marley. Óbvio, aquele discurso de libertação
bate direto com a história triste de nove entre dez
nações do berço da humanidade.
O reggae chegou a ser banido das rádios sul-africanas
durante o apartheid. Entre os eternos discípulos de
Marley está Alpha Blondy, natural da Costa do Marfim.
Numa linguagem que mistura inglês, francês e dialetos
locais, o cantor junta-se aos Wailers para gravar um dos melhores
discos de reggae dos anos 80. Garnett Silk Gold (VP Records)
Garnet Silk segura o bastião da mudança de comportamento
da música jamaicana. Tirou o sexo da boca e voltou
à louvações a Jah. Gold é uma
coletânea de compactos do cantor e tem belos atrativos.
Um deles é ``Mama´´, que você deve
conhecer através dos shows dos Titãs. Em português,
a música atende pelo nome de ``Marvin´´.
Shabba Ranks, Home T. & Cocoa Tea Holdin´ On (Greensleeves)
Nada melhor do que ser apresentado ao mundo do dancehall através
deste álbum - em que Shabba, o DJ mais pornográfico
da Jamaica junta forças com os cantores Home T. e Cocoa
Tea.
As pedradas ``Pirates Anthem´´ e ``Holdin´On´´
tocaram até dizer chega. Buju Banton ´Til Shiloh
(Mango/Island) Buju se convertou ao rastafarianismo e fez
um dos mais belos discos de 1996. Ele capricha nos duetos
(o melhor deles é com Wayne Wonder, menino de ouro
das jamaicanas), manda um recado para os bad boys (em ``Murderes´´)
e fala que seu negócio agora é louvar o santo
nome de Jah (em várias faixas). Amém! Chaka
Demus & Pliers Tease Me (Island/PolyGram) Para os fãs
de reggae em todo o mundo, o termo dupla significa a união
entre um cantor e um DJ. O primeiro injeta doçura nas
composições e o segundo preenche os espaços
mandando raps em ponto de bala. Nesse terreno, Chaka Demus
& Pliers são os reis. Tease Me é disco para
as pistas, com as pedradas ``Murder She Wrote´´
- o single de 1993 na Jamaica -, a regravação
de ``Bam Bam´´ e a faixa-título.
Shaggy Boombastic (Virgin Records) O maior DJ da atualidade.
Shaggy saltou do anonimato para um contrato de um milhão
de dólares com a Virgin graças ao single de
``Oh Carolina´´, regravação manhosa
de uma velharia dos Folkes Brothers. Boombastic mostra que
o DJ pode ir além de apenas um sucesso. Ele tira do
baú musicões da categoria de ``Train Is Coming´´
(com direito ao cantor original, Ken Boothe) e ``In The Summertime´´
(hit de Mungo Jerry tirado do baú e que ressucitou
o autor da canção). Bob Marley Songs Of Freedom
(Island) A coleção definitiva do rei do reggae.
Em quatro CDs, a carreira de Bob Marley é dissecada
com maestria. O ouvinte acompanha o início de carreira
do cantor, em Kingston, quando ele largou a carreira de soldador
para investir na música -delicie-se com o primeiro
compacto do cara, ``Judge Not´´.
Há diversas colaborações de Bob com o
Studio One, de Clement Dodd, os sucessos imortais e faixas
inéditas. Tudo embalado pelas bulas de Roger Steffens,
o jornalista que mais entende de Bob Marley no mundo todo.
Toots & The Maytals Time Tough: The Anthology (Island)
Toots Hibbert inventou o termo ``reggae´´ e possui
um dos gogós mais privilegiados da terra de Jah. A
coletânea dupla Time Tough cobre o período pré-histórico
do cantor, na época que ele cantava ska, para depois
cair nas pérolas criadas pelo cantor (``54-46 (That´s
My Number)´´, ``Do The Reggay´´ e
``Monkey Man´´) até os dias de hoje. Mais
que essencial. Lucky Dube Prisioner (Shanachie) Ex-ator de
filmes de terror, o sulafricano Dube é a nova esperança
dos fãs do roots reggae. As qualidades dele são
infindáveis: ele tem um timbre vocal semelhante ao
de Peter Tosh, mistura seu reggae com sons afro e as letras
apontam uma retomada da conscientização.
Dube declara amor ao reggae (``Regga Strong´´),
fala de Jah (``Jah Live´´) e aborda temas vampirescos
(``Dracula´´). Mad Professor It´s A Mad,
Mad, Mad Professor (RAS) Neil Fraser é figura de ponta
do dub inglês. Criador do selo Ariwa, por onde grava
DJs da estirpe real de Macka B, ele elevou o reggae viajandão
a píncaros nunca dantes alcançados - Mad Professor
grava até com os deus do Massive Attack. It´s
A Mad... seleciona as melhores faixas do mestre, com direito
a um pré-jungle - a faixa ``In The Heart Of The Jungle´´,
de 1984. Dub Syndicate Ital Breakfast (On-U-Sound) A exemplo
de Mad Professor, o inglês Adrian Sherwood é
especialista em perverter o reggae.
Esse engenheiro de som é responsável pelo Dub
Syndicate, outra figura de destaque do dub inglês. Ital
Breakfast, lançado em 1996, retomas as raízes
da criança. Para isso conta com a participação
de Dean Frazer, lendário saxofonista jamaicano, Keith
Sterling (teclados, ex-Peter Tosh) e o DJ veterano I-Roy.
Beres Hammond Puttin´ Up Resistance (RAS) Soul romântico,
a cargo do cantor mais manhoso da ilha. Puttin´ Up capta
os grandes singles do moço de voz roufenha, entre eles
a faixa-título e sua releitura para ``Tonight´s
The Night´´, de Rod Stewart. J.C. Lodge Love For
All Seasons (RAS) Os trinados de J.C. em ``Telephone Love´´
sacudiram a Jamaica em 1991. Agora ela solta um disco com
produção de Mad Professor e abarrotados de hits
românticos. Tem até ``You Make Me Feel Brand
New´´, mela-cueca dos Styllistics. Zion Train
Homegrown Fantasy (Mesa/WEA) O futuro do reggae chama-se Zion
Train.
Eles preparam um híbrido de dance music, dancehall
e dub, espécie de ``mistura e manda´´ ao
gosto do freguês. Mas, invariavelmente, a reação
é das mais alucinantes. Reggae Brasil Gilberto Gil
Raça Humana WEA Gilberto Gil é um dos pioneiros
do reggae brasileiro. Excursionou ao lado de Jimmy Cliff nos
anos 80 e verteu para o português o hino ``No Woman,
No Cry´´, de Bob Marley. Raça Humana é
um de seus álbuns mais bem resolvidos dentro do gênero.
Gil canta ao lado dos Wailers (``Vamos Fugir´´)
e mostra sua genialidade como compositor na faixa-título.
Paralamas do Sucesso Selvagem? (EMI Music) Pedra fundamental
do reggae nacional e de todo o pop que aqui se pratica hoje
- e vergonhosamente fora de catálogo -, Selvagem? Marca
a maturidade dos Paralamas. Depois de sessões de dub
e reggae da melhor qualidade e com a produção
certeira de Liminha, o trio mostra influências de Clash
e Black Uhuru e lava a égua nas clássicas ``Alagados´´
e ``A Novidade´´ - uma parceria do grupo com Gilberto
Gil. Cidade Negra Lute Para Viver (Sony Music) Este disco
foi um marco para o reggae carioca. Depois do lançamento
de Lute Para Viver, surgiram mais de trinta bandas de reggae
na Baixada Fluminense, fascinadas com o caminho aberto.
O álbum não tem o apelo pop de Sobre Todas
As Forças - que transformou o Cidade em supergrupo
- mas é repleto de pedradas. A faixa-título,
``Não Capazes´´ e o hino ``Falar A Verdade´´,
que acompanha o Cidade até hoje, estão entre
os destaques. Skank Calango (Sony Music) O álbum foi
definido pela revista Beat - a Bíblia dos reggamen
- como ``reggae de outro planeta´´. Resumindo:
o Skank produziu música original a partir de suas influências.
A pajelança sonora é inacreditável: reggae
com naipe de metais mariachi (``Amolação´´),
dancehall com uai (``A Cerca´´) e lovers rock
à brasileira (``Te Ver´´). O Rappa Rappa
Mundi (WEA) O Rappa vem da mesma escola do Cidade Negra -
a Baixada Fluminense - mas inclui corpos e ritmos estranhos
ao ritmo jamaicano. Injeta scratches e mistura o reggae a
elementos como samba, funk e até mesmo rock.
Rappa Mundi é um trabalho redondíssimo em que
se destacam as releituras para ``Vapor Barato´´
(eternizada por Gal Costa) e ``Hey Joe´´, além
de sons próprios como ``Miséria S/A´´
e ``Pescador de Ilusões´´. Walking Lions
Vitrine (Eldorado) O Walking Lions é uma banda-mãe
do reggae de São Paulo. De suas fileiras saíram
integrantes de diversos grupos badalados - entre eles, Nando
Reis. Vitrine é o primeiro lançamento do Walking
Lions depois de anos de batalha. Inclui hinos das noites paulistanas
de reggae como ``Boneca Robotizada´´ e ``Hey DJ´´.
O povo prometidoUma interpretação muito particular
da Bíblia marca o reggae O rastafarismo, uma - digamos
assim - filosofia, é a própria encarnação
da anarquia. Sem organização, hierarquia ou
fé no poder, os rastas combinaram crenças africanas
muito antigas com o cristianismo fundamentalista dos Estados
Unidos, em particular a Igreja Batista. Tudo começou
com um ex-escravo afro-americano chamado George Liele, que
fundou a Igreja Batista na Jamaica do século 17.
Nascia aí o rastafarismo, com vários pontos
em comum com o judaísmo. Assim como os israelenses,
os jamaicanos sofriam com a discriminação racial
e com a impossibilidade de retorno à pátria,
o que fez surgir na ilha vários líderes políticos.
Um deles, o sindicalista jamaicano Marcos Mosiah Garvey -
o mais destacado -, perambulou pelos EUA pregando que Deus
era negro. Garvey acreditava que os negros deveriam voltar
para a África, de onde tinham sido arrancados para
trabalhar como escravos. É dessa época a profecia
atribuída a Garvey, que dizia: ``Quando um rei negro
for coroado na África, é sinal que a redenção
está próxima.´´ Em 1930, a Etiópia
coroou o primeiro imperador negro da África.
Ras Tafari Makonnen adotou o nome de Hailé Selassié
e o título de ``Rei dos Reis, Senhor dos Senhores,
Leão Conquistador da Tribo de Judá.´´
Selassié afirmava ser de uma linhagem sagrada: descendia
do casamento do rei judeu Salomão com a Rainha de Sabá.
A família de Davi, pai de Salomão, gerou nada
menos que Jesus Cristo. Os rastas vêem Selassié
como o novo Messias. A redenção não veio,
Selassié não conduziu o povo à terra
prometida (África), mas os rastas se proliferaram pela
Jamaica.
Eles se baseiam numa livre interpretação da
Bíblia para justificar o uso da ganja (leia-se maconha).
``Ele se elevou da fumaça de suas narinas´´,
prega o Salmo 18:9. Os rastas não cortam o cabelo -
daí os dreadlocks - e não fazem a barba. Carne
de porco, álcool e tabacos são terminantemente
proibidos.
A alimentação consiste na I-Tal Food, comidinha
feita a base de ervas, raízes e vegetais. Os rastas
jamaicanos tiveram sua própria civilização,
chamada Sociedade Para A Salvação Da Etiópia.
Em 1941, a festa acabou: policiais invadiram a sede da sociedade
na colina Pinnacle, em Kingston, destruindo uma senhora plantação
de maconha. Os líderes foram presos. Mas os rastas
não se deram por vencidos e reconstruíram Pinnacle
dois anos depois.
A polícia também mostrou sua persistência
- o local foi definitivamente demolido em 1954. A Jamaica
se transformou então numa segunda Babilônia,
considerada pelos rastas a personificação do
mal. Em 1966, Hailé Selassié, em visita à
Jamaica, pregou que a imigração para a terra
prometida não deveria ocorrer antes da própria
ilha fosse libertada. O rastafarismo ganhou um perfil político,
com a participação - fracassada - do Black Man´s
Party nas eleições no ano seguinte. Mas a tentativa
não foi em vão: nasceu daí a
Rastafarian Moviment Organization, que compilou grupos ligados
ao culto e montou o jornal mensal Rasta Voice. Só que
nenhum veículo de informação se deu melhor
do que as pregações musicais de Bob Marley e
cia. Nos anos 70. Hoje os rastas não têm a mesma
popularidade entre os jamaicanos. Mas eles ainda são
a marca registrada da ilha, com seus cânticos e os inconfundíveis
dreadlocks.
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