04/03/2005
Vell Rangel fala para o Surforregae sobre o seu trabalho e as questões raciais retratadas no álbum "A Luta Continua"
 
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ENTREVISTA


 Site: Fale um pouco sobre o CD "A Luta Continua". Seria uma continuidade do CD “Neguinho de Rua” que foi gravado ao vivo em 1999 ??Vell: Na verdade não pude dar finalizar o projeto "Neguinho de Rua" para torná-lo um CD e ele se tornou um CD demo (demonstração). Neste período, o Alexandre (Natiruts) se interessou em gravar uma das minhas composições, mas a gravadora deles vetou. "A Luta Continua" vem trazendo 4 canções que eram do projeto anterior, "Guerreira", "Benevolência", "Tio Sam" e "Neguinho de Rua". Este CD é a continuidade de um trabalho que já venho produzindo há muito tempo com a conhecida dificuldade do artista que luta sozinho.

 Site: O que você quer dizer com "A Luta Continua"?
Vell: Nessa música, quero dizer que nunca é tempo de desistir, é sempre tempo de lutar e buscar forças na natureza e em tudo o que tiver de mais positivo no nosso planeta. É sempre seguir em frente, ter resistência sempre, mas também saber lidar com a agressão. A minha filosofia é o amor todo e sempre, mas se me agredirem, confesso que não vou virar a outra face como Cristo fez. É preciso ter firmeza.

Site: Que temas são abordados nesse trabalho?
Vell: Em "Muro Racial", falo da questão racial porque acredito nos seres humanos. As pessoas tinham que pensar mais por esse lado, sem tentar separar porque é negro, índio ou branco, todos têm direito a um espaço. Na faixa "Desabafando", também enfoco um pouco essa questão no trecho em que digo: "eu falo da cor, eu falo da classe oprimida, eu falo da dor que tenta roubar a nossa vida". Mas também destaco que as pessoas confundem muito o reggae com o uso da maconha, quando canto esta canção ao vivo mudo um pouco a letra para "o reggae não é só fumar maconha e curtir". Isso se deve ao fato de associarem o reggae ao rastafarianismo. Respeito muito o Marley e toda a identidade rastafari que ainda existe na Jamaica mas eu não sou um rastafari, não sigo a religião rastafari. Eu acredito muito no amor, acho que isso o ser humano tem que aprender, porque o amor não diferencia ninguém. A religião separa os povos, por isso não penso em seguir uma religião. Acredito na natureza, no que o criador do universo, pai de toda a ciência, nos deixou, e em cultivar o amor, porque ele é a grande verdade do ser humano, ele atropela qualquer religião. Se a religião briga, o amor não briga, o amor quer paz pra todo mundo, e isso é o que importa.

Site: A faixa "Desabafando" esclarece que para curtir o ritmo você não precisa necessariamente fumar maconha, como muitos acabam acreditando...
Vell: Acho que essa conotação tem que acabar, principalmente para os jovens que são os maiores freqüentadores dos shows de reggae. O reggae tem uma função política e social muito importante. Procuro apresentar o meu trabalho com conceito para que esse público perceba, através das mensagens, o conteúdo de vida que pode ser adquirido. Algumas pessoas confundem muito, inclusive surgem muitas bandas novas com esse pensamento de fazer reggae associando o ritmo com zoeira. O reggae não é uma brincadeira. Isso se deve ao fato de divulgarem o nome de Bob Marley como maconheiro. Uma falta de esclarecimento do porquê ele e outros ídolos do reggae usavam a maconha, o que estava relacionado com o rastafarianismo. Há muito tempo que a droga está em toda a parte, tanto no pagode, no rock, e em outros ritmos, mas o reggae ainda é muito mal-visto, e isso prejudica muito a evolução do ritmo no Brasil. Eu já passei por esses processos mas descobri que você tem que estar sadio para poder suportar a vida. Eu não tenho que seguir droga nenhuma, tenho que seguir uma vida com conteúdo. Então estou lançando o meu CD com a proposta de mostrar para as pessoas que é possível você ser um reggaeiro sem usar droga e fazer com que elas observem o mal que estão fazendo para si próprias.

Site: Percebo que as canções de reggae não falam muito das questões femininas e que no Brasil também não temos vocalistas de reggae que se destacam. Como você vê a mulher no reggae?
Vell: Realmente não tenho conhecimento da existência de vocalistas de reggae a não ser como backing vocals (coro). Já ouvi dizer que em São Paulo e no Maranhão têm algumas mulheres que realizam seus trabalhos mas ainda não ouvi nada. Nesse CD apresento uma canção chamada "Guerreira" homenageando a mulher e a minha musa inspiradora foi a minha mãe que quase morreu quando me deu a luz sozinha em uma casa de palha em Alagoas. Eu percebo que a mulher no Brasil é muito mal tratada e desvalorizada, ela precisa ser respeitada. Essa música diz que a mulher também tem o poder de lutar pelos seus ideais e dividir algumas questões com os homens. Em "Guerreira" enfoco a doméstica, observando a batalha da minha mãe e consciente de que muitas domésticas brasileiras passam por todas essas dificuldades, de cuidar ao mesmo tempo da casa e da família, quando não têm que trabalhar fora como doméstica também.

Site: Qual o panorama do reggae nacional, onde você acha que se produz reggae de qualidade?
Vell: Em vários cantos do país, na Bahia tem o Edson Gomes, Sine Calmón; em Brasília tem o Natiruts, e o Maranhão, que é a terra do reggae. O sul também vem trazendo bandas de qualidade. Tem muita gente boa na Baixada Fluminense, que é o berço do reggae aqui do Rio. Niterói também é um lugar onde o reggae tem se desenvolvido muito.

Site: Como os faz podem adquirir o CD “A Luta Continua” ?
Vell: Através das lojas virtuais (americanas.com. fnac.com. siciliano.com, etc..) e nas lojas especializadas. Caso queiram saber um pouco mais sobre o trabalho o site que foi lançado a pouco tempo e www.vellrangel.com.br e isso . “A Luta Continua”


Fonte: Kátia Drumond








 
Here I Am
Groundation
Live at Dour Festival

The Congos
(Reggae)


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