11/10/2016
O impacto da cultura SoundSystem!
 
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Muitos sabem o que é um sound system e que os mesmos foram criados na Jamaica. No entanto a maioria das pessoas desconhece a sua verdadeira história e sobretudo como a sua criação impactou na cultura da ilha e por que não dizer, mundial. Para quem desconhece, os sound systems são literalmente potentes sistemas sonoros comandados por DJs que se revezam tocando uma seleção de músicas e muitas vezes improvisando sobre elas.

O NASCIMENTO


Os primeiros sound systems surgiram de fato no final dos anos 40, e não na década de 50 como diversas fontes citam. Naquela época, as festas ou bailes eram dominadas por bandas que tocavam basicamente r&b americano ou mento (oficialmente o primeiro ritmo jamaicano a ser gravado). Porém, esse formato começou a se tornar inviável para os produtores por uma simples razão - a econômica.

Basicamente o lucro dos tais bailes era advindo da venda de bebidas e de um prato muito tradicional na época, o bode ao curry. Segundo o grande produtor Bunny Lee, as bandas ou orquestras dessa época eram bastante numerosas, e tocavam sempre por uma hora ininterrupta até realizar intervalos.

Durante essa pausa, os músicos comiam e bebiam muito, o que ao final custava caro. Nesse momento, sobretudo num país muito pobre e com um povo de baixíssimo poder aquisitivo, a ideia de se ter que custear apenas um sistema de som e um DJ para entreter as pessoas mostrou-se ser mais adequada e lucrativa.

Inicialmente, os primeiros sound systems, eram formados basicamente por um deque, um amplificador valvulado e o maior conjunto de alto-falantes comercialmente disponível.

Ao longo dos anos 50 eles se tornaram mais poderosos e sofisticados, podendo ser ouvidos a algumas ruas de distância o que na época impressionava as pessoas. Os sistemas sonoros geralmente eram batizados com o nome exato ou relacionado ao seu fundador, e os "sounds" pioneiros foram o "Goodie’s", "Count Nick the Champ" e "Count Jones".

O DESENVOLVIMENTO


Muitos dos entusiastas do reggae comentam por aí orgulhosos que até o RAP surgiu na jamaica. Além disso ser a mais pura verdade, essa foi apenas uma das contribuições que essa pequena ilha deu para o mundo, originada também através dos sound systems.

Oficialmente, um cidadão chamado Winston Cooper, mais conhecido como Count Machuki, foi o primeiro DJ a se tornar um verdadeiro mestre de cerimônias (MC), e ser o precursor dos rappers de hoje. Enquanto Machuki rimava e improvisava criando jargões que até hoje são copiados no meio, Duke Vin escolhia as músicas, o que tornou Tom "The Great" Sebastian o mais conhecido dos pioneiros sistemas sonoros.

No entanto, somente nos meados da década de 50 surgiram três figuras que viriam revolucionar não só esse mercado, mas também causar uma mudança radical de curso na cultura jamaicana. Foram eles Clement Seymour Dodd (conhecido por Coxsone Dodd, fundador do Studio One), Artthur "Duke" Reid (criador do futuro selo Trojan) e Vincent "King" Edwards que em 1959 tinha o mais potente sistema da ilha.


Ilustração de Sir Coxsone Dodd, um dos gigantes do meio

A rivalidade entre eles era tremenda, que os seus adeptos podem ser facilmente comparados com as torcidas organizadas no nosso querido país do futebol. Simplesmente ou você era "Coxsone", "Reid" ou "King", de acordo com o baile que frequentava. Eram frequentes também sabotagem entre eles, sobretudo partindo de Duke Reid, um ex-policial que vivia cercado de "bad boys".

Os discos tocados por eles eram conseguidos nas incontáveis viagens aos Estados Unidos, onde estilos como o jazz, r&b e o boogie woogie eram adorados. O único que conseguiu ameaçar a hegemonia dos três grandes foi Cecil Campbell, mais conhecido como Prince Buster, ex-boxeador e líder de uma gangue em Kingston, capital da jamaica.

Para atrair seguidores cada sound system necessitava de músicas exclusivas e isso criou uma enorme demanda por gravações verdadeiramente obscuras no cenário americano. A partir disso surgiu uma outra cultura (ou anti-cultura?), bastante seguida até hoje inclusive no Brasil pelas radiolas, que é a de remover os títulos, nomes do artista e até o número de série dos discos.

INDÚSTRIA MUSICAL JAMAICANA: O SURGIMENTO


A indústria musical jamaicana também foi fruto da cultura dos sound systems e dos seus maiores expoentes. Ao final dos anos 50 e início da década de 60 surgiram alguns selos importantes, como Treasure Isle, Trojan e Studio One. Enquanto os donos dos sistemas usavam os mesmos para divulgar suas primeiras produções em discos de acetato ou de cera, os artistas desenvolviam seu talento em shows de calouros e de variedades, muitas vezes imitando artistas americanos da época como Little Richard. Sendo assim, ser bem sucedido nesses concursos de talentos era como pré-requisito para que os produtores se interessassem.

Os famosos vinis compactos de 7’’ começaram a ser produzidos comercialmente em 1959, revelando futuros astros da música jamaicana como Alton Ellis, Owen Gray e Derrick Morgan que na época gravavam r&b e boogie. Na mesma época, seguidores da filosofia rastafari já surgiam, e até o final da década já existiam de dez a quinze mil adeptos.


(Os famosos discos de 7’’ até hoje produzidos e consumidos mundialmente)

As tradições indígenas jamaicanas falaram mais alto no momento em que a música começou a se desenvolver e novos artistas foram surgindo. Particularmente a mistura de ingredientes como ritmos africanos com toques caribenhos, executados por músicos bem familiarizados com o ritmo americano deram a origem ao Ska, que reinou por anos e foi dando origem a outros estilos.

Nessa época foram fabricados grandes hits inclusive da maior estrela da ilha de todos os tempos - Bob Marley. Nomes como Jimmy Cliff, Desmond Dekker, Derrick Morgan, The Maytals, The Dominoes, The Skatalites e a grande estrela juvenil Delroy Wilson eram apenas alguns cujas gravações em discos de 7’’ agitavam os bailes sound system do período até o final da década de 60.

Revolucionando o mercado cultural da ilha, a demanda por novos hits para serem executados nos sistemas de som não só deu origem a uma série de novos artistas, mas também a novos produtores, o que prova a verdadeira virada cultural promovida por esse mercado não só na música mas no futuro e fama internacional da jamaica.

CONTRIBUIÇÕES


Além de ter motivado a criação da indústria musical jamaicana fazendo com que os mesmos produzissem a sua própria música, a cultura de sound system também foi diretamente responsável pelo surgimento de novos ritmos derivados das primeiras manifestações musicais por lá registradas.

A popularização não só do Rocksteady (sucessor do Ska), como do DUB, Dancehall, Ragga e praticamente quase todos os estilos relacionados ao Reggae ou à música desse país se deu também através da massificação e surgimento de incontáveis sistemas sonoros que disputavam por toda a ilha.

O clima de competição entre eles não só fomentou a criação de estúdios, selos, gravadoras, fábricas de discos, mas evidentemente fez com que a pequenina ilha desenvolvesse artistas de padrão internacional que até hoje se apresentam por todo o mundo.

O Reggae apesar do preconceito é um dos poucos estilos musicais que pode ser dito universal, por ser ouvido e apreciado em praticamente todos os países do mundo, cada um evidentemente com sua intensidade. Junto a ele, a cultura de sound systems também se desenvolveu no mundo inteiro, tendo enormes representações culturais como no Brasil com as radiolas de São Luís, na Europa em países como Inglaterra e França, nos Estados Unidos e até no Japão.


(A música eletrônica: também fruto do DUB jamaicano)

Após a explosão internacional do ritmo que veio com Bob Marley, o mundo começou a prestar mais atenção no que vem dessa ilha que hoje possui apenas 2 milhões e 700 mil habitantes, mas é tão rica culturalmente. Foi através da criatividade do seu povo que surgiram os sound systems, que sempre estiveram lado a lado no desenvolvimento cultural do país, e também originando outras manifestações mundialmente conhecidas como o próprio rap e a música eletrônica. Salve a Sound System e a sua história!


Fonte: Rafael Surforeggae





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