08/12/2009
Confira a entrevista do Surforeggae com a banda Namastê, que lançou o CD "O Sol Nasce para Todos"!
 
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O Surforeggae entrevistou a banda Namastê, de Curitiba/PR, uma das grandes expoentes do Reggae nacional, e que está lançando o seu mais novo CD – “O Sol Nasce Para Todos”.

A ENTREVISTA


 Rafael Surforeggae: Contem-nos um pouco sobre como começou a banda Namastê e por que escolheram tocar Reggae e não um outro ritmo musical.
Diego Bueno: O Namastê surgiu em Ponta Grossa (Paraná) em 1998 quando ainda era banda cover, e em busca de uma cena maior, retornamos a Curitiba, terra natal. A banda teve várias experiências e a aceitação foi legal, tocando hits jamaicanos. Tocar com Beto no vocal principal e as meninas nos backings vocais foi muito legal. A outra parte da banda veio de um trabalho chamado Jamaica Brasileira que já vinha tocando reggae na cidade desde 1995, com a participação do nosso amigo Marcelo Makoto vocal da banda Africa Band. Em 1999 Diego, Ana, Eduardo, Vilma, Wellington, Rodrigo, Samuel e Rafael pensaram em fazer uma nova banda e logo gravar o primeiro CD intitulado “Reggae do Bem”. Debatemos como ficaria o nome da banda, pensamos muito, e nada! No fim foi destino mesmo. Ficou Namastê pela vibe do nome que é 1000. Sentimos que seria legal investir de verdade neste nome, até virar o que é hoje para nós.

E assim descobrimos algo diferente que teria que ser adotado como Ana e Vilma assumir os vocais principais e trazer uma sonoridade diferente. Acho que aqui todos já tinham uma paixão natural por esta música e que teve o incentivo do grande colecionador e embaixador do Reggae no Brasil, o nosso amigo Geraldo Carvalho. Ele acendeu a tocha no coração dos curitibanos com o seu programa Conexão Jamaica. Neste programa rolava todas as pedras do reggae. Geraldo trouxe dezenas de artistas top pra cá: The Wailers, Dennis Brown,Gregory, Joe Gibbs, Burning Spear, Ziggy, Black Uhuru, Third World, Lucky Dube, Alpha e ai vai! Só os monstros do reggae.



Rafael Surforeggae: Como vocês analisam o movimento do Reggae no Brasil atualmente? Por serem uma banda que já tem uma estrada, qual diferença percebe entre dez anos atrás e os dias de hoje?
Diego Bueno: Acho que o movimento está indo para um outro lado. Antigamente as pessoas tinham o prazer em escutar as músicas, sendo tocadas na hora ao vivo. Os instrumentos com feeling... a energia era outra. Vejo também que o reggae está sendo invadido por novas vertentes e pessoas que não escutaram a raiz da música e ainda não estão preocupadas com a estrutura dela, nem o que sempre ela quis passar e dizer. Agora por mais que o reggae esteja numa fase tão boa, Namastê já conquistou seu espaço. E graças a Deus tem o seu espaço.



Rafael Surforeggae: Ultimamente temos tido grandes perdas no cenário internacional, e também nacionalmente. Quais foram as que mais marcaram vocês? Alguns desses artistas ou pessoas envolvidas influenciaram no trabalho da Namastê?
Diego Bueno: A perda de Bob, Peter e Dennis Brown não foram recentes, mas foi chocante para o mundo em termos do crescimento musical de um modo geral... Ainda mais pra quem não teve a oportunidade de ver estes monstros da música. Lucky Dube, mega-star foi assassinado. Isto foi uma vergonha para a humanidade, um cantor que levava mensagens de amor ao povo. Da minha parte, Geraldo Carvalho foi "o cara". Sinto muito sua perda, fora a amizade, que era muito boa. Com ele conheci o reggae e toda a sua história, artistas, álbuns, vídeos, quem tocava com quem, quem não tocava mais, nome dos instrumentistas, toda a árvore desta música.

Então tivemos boas oportunidades de influências porque ele forneceu e foi um professor apesar de não ter sido músico. Mesmo assim, tinha um super conhecimento e convivência da terra Jamaica e com artistas jamaicanos. Pra mim, fui influenciado por alguns que se foram recentemente, como Lucky Dube, Mikey Dread, Joe Gibbs, Joseph Hill, Junior Delgado, Delroy Wilson, Bim Sherman, enfim.



Rafael Surforeggae: de onde surgiu a idéia de ter dois vocais principais femininos? Isso é uma coisa meio que inovadora no reggae tanto nacional quanto internacional.
Diego Bueno: Isto veio naturalmente, pelo fator disciplina que estávamos procurando. Na época haviam poucos músicos de reggae que realmente estavam interessados em fazer reggae com uma determinação profissional. Bob marley, um homem no vocal e mulheres nos backings era o que existia. Ana e Vilma já vinham conquistando seus espaços fazendo já alguns temas no show como vocal principal. Queríamos fazer uma nova banda com outra sonoridade, foi uma coisa muito legal. Elas e a galera da banda assumiram de vez. Abriram a cabeça de várias pessoas, incentivando várias outras a fazer e aceitar o mesmo.



Rafael Surforeggae: Qual foi o período mais importante na carreira de vocês? Há algum fato em especial ou momento em que gostariam de destacar?
Diego Bueno: Nossos lançamentos dos CDS, o clip com a participação do Fauzi e Zé orlando da Tribo de Jah, as turnês pela Argentina e trabalhos como banda de apoio do Pato Banton, Papa Winnie, Ras Bernardo e Andrew Tosh. Os prêmios de música que a banda ganhou, e alguns shows em Curitiba onde o povo respondeu com um grande carinho.



Rafael Surforeggae: Sempre percebi no som da Namastê muitos elementos atuais do que se faz no Reggae lá fora nos últimos anos. Vocês se espelham mais em artistas da música brasileira ou propriamente em estrangeiros?
Diego Bueno: Na banda tem vários gostos. Escutamos os “reggae stars”, “new reggae”, nossa influência vem de vários lugares e de tudo o que cada componente da banda está escutando, misturando de reggae ao rock‘n roll, jazz e música brasileira. Mas a maior parte do trabalho com certeza está focado na música jamaicana.



Rafael Surforeggae: Qual o primeiro contato que vocês tiveram com a música? E como é manter a base do grupo por tantos anos?
Diego Bueno: Todo mundo passou por vários estilos até chegar ao reggae, mas quando nos encontramos, todos ja tocavam o mesmo estilo. Gostos musicais parecidos, assim foi facíl de tudo se encaixar. Saber o que quer é o segredo. Entender que todos tem defeitos e maneiras de pensar, e ter o mesmo carinho e respeito pelo que se está fazendo, conhecimento sobre este trabalho é importante como qualquer profissão, escutar o ritmo.



Rafael Surforeggae: Já tivemos grandes shows Internacionais no Brasil. Quais os artistas preferidos de vocês que já estiveram por aqui?
Diego Bueno: Gregory Isaacs, Burning Spear, Andrew Tosh, Culture, Sly & Robie, Israel Vibration, The Wailers, Ziggy Marley, Steel Pulse, Gladiators, Dezarie, Midnite, Alpha Blondy, Pablo Moses, Skatalites, Lucky Dube, Black Uhuru, Groundation, Mad Professor, Lee Perry e outros.



Rafael Surforeggae: Alguns de vocês já fizeram banda de apoio para grandes nomes do Reggae internacional. Qual foi a experiência mais interessante que tiveram e citem alguns dos artistas que já trabalharam.
Diego Bueno: Gravar o DVD Tributo a Peter Tosh, o príncipe do reggae na maravilhosa Bahia, um dos berços do reggae no Brasil com os membros da família Tosh foi inesquecível. Andrew mega cantor de reggae e herdeiro da voz e fisionomia de seu pai e Adrian Tosh, boa pessoa e grande conhecedor da música. Tocar com Amlak Tafari (atual baixista do Steel Pulse), Pato Banton e Papa Winneie também foi inesquecível. Tudo graças ao Geraldo Carvalho.



Rafael Surforeggae: Como vocês definem o som do Namastê?
Diego Bueno: O Namastê tenta manter a raiz da música reggae mesmo misturando elementos com todo cuidado. Somos o reggae com uma energia do rock com jeitinho brasileiro, contando um pouco o que vivemos juntos no dia a dia.



Rafael Surforeggae: Num universo onde é incomum vocalistas do sexo feminino, vocês recebem muitas cantadas ou declarações de amor?
Ana: O fato de estarmos trabalhando com uma música que valoriza as mensagens, faz com que o público respeite muito nós como pessoas, eles criam uma admiração saudável e acabam nos vendo de outra forma. Porém, sempre tem um ou outro que acaba passando do limite. Que eu me lembre nunca tivemos maiores problemas com isso.



Rafael Surforeggae: Qual a região do país em que vocês são mais bem recebidos?
Diego Bueno: Graças a Deus sempre somos bem recebidos na maioria dos lugares, mas nossa terra com nossos amigos e família é sempre mais caloroso.



Rafael Surforeggae: Quais os meios de divulgação que vocês costumam recorrer para ficar informados tanto sobre o que está acontecendo no mundo, tanto sobre o Reggae?
Diego Bueno: A internet é o grande meio para informações, aproveito aqui para parabenizar o Surforeggae que é um site completo e o melhor veículo de informação do reggae no país, onde tem pessoas que realmente entendem desta música mágica. São pessoas responsáveis.



Rafael Surforeggae: Vocês são a favor do download gratuito de músicas pela internet? O que acham da pirataria? Ajuda mais ou atrapalha mais?
Diego Bueno: O cd está virando praticamente um cartão de visitas. De certa forma é uma pena, pois vemos que várias bandas independentes fazem CDS com produção caseira por saber que não vão conseguir fazer aquele produto gerar renda. Vendo por este lado prejudica um pouco a qualidade dos CDS lançados. Quanto ao download somos a favor, pois ajuda muito na divulgação do trabalho. Bom que o público saiba que quando compra um CD original de um artista está dando uma grande força para que o trabalho dele possa melhorar, pois fazer trabalhos (CDS, shows, etc.) de qualidade custam caro!



Rafael Surforeggae: Qual a importância que vocês acham que o Reggae tem como música para o povo brasileiro?
Diego Bueno: O reggae tem a positividade de trazer boas mensagens, apesar de algumas bandas distorcerem isto. Mas pra nós, encaramos como uma vitamina para pessoas desejarem um mundo melhor, de paz, amor, consciência, onde todos possam aprender a viver juntos independente da raça ou crença.



Rafael Surforeggae: Se tivéssemos numa caixa uma música inédita de Bob Marley, uma de Peter Tosh e uma de Bunny Wailer, qual vocês ficariam mais curiosos de escutar? Teria algum outro artista que ouviriam antes desses? Eu confesso que tenho, mas não irei revelar (risos).
Diego Bueno: Seria algo muito difícil escolher entre Bob Marley e Peter Tosh. Antes deles não, apesar de ser fã de vários artistas.



Rafael Surforeggae: Vocês pretendem fazer gravações com artistas internacionais? Essa é uma idéia antiga e que sempre rende bons frutos para o Reggae brasileiro internacionalmente.
Diego Bueno: Estamos engatilhando para fazer uma parceria com um artista internacional, com certeza vai rolar.



Rafael Surforeggae: Falem um pouco sobre o novo álbum e como foi concebê-lo.
Diego Bueno: O novo álbum é como mais um filho e traz umas linhas mais maduras da banda tentando sempre mais peso no som, aos grooves. As linhas estão mais "pesadas". Aderimos à modernidade e fizemos novas experiências, mas sem sair da estrutura tradicional do Reggae-Jamaica que é maravilhoso.



Rafael Surforeggae: Como vocês analisam a evolução do Namastê desde "Reggae do Bem", passando por "Simplesmente Assim" até o mais recente CD?
Eduardo: No primeiro CD (Reggae do Bem) tínhamos os temas e a vontade, fizemos na raça. A verba era curta e não tínhamos muita idéia de como iria ficar, pois era o primeiro registro do som da banda em estúdio. Já no Simplesmente Assim (segundo CD) já estávamos mais à vontade, pois tínhamos uma bagagem maior e mais recursos para gravação. No CD mais recente - "O Sol Nasce Para Todos", acho que conseguimos registrar um grande amadurecimento da banda principalmente em relação aos "grooves" e à sonoridade, pois temos uma afinidade muito grande que foi adquirida.

As bases deste CD foram gravadas ao vivo no estúdio, uma coisa que queríamos experimentar a muito tempo mais ainda não tínhamos feito. O resultado deste tipo de gravação é um som mais natural, pois dá a idéia de "ao vivo”. Agradecemos também ao Grupo Educacional UNINTER, que patrocinou este projeto, assim com mais recursos conseguimos fazer um trabalho de qualidade sonora superior. Outro detalhe é que este CD tem muitos elementos do reggae atual e foi mixado e masterizado nos Estados Unidos, o que deu a este projeto um acabamento especial.



Rafael Surforeggae: Vocês acham que a fórmula do sucesso está próxima do som que produzem? Vocês estão sempre satisfeitos com o que produzem ou são do tipo que sempre buscam um algo mais?
Diego Bueno: Não pensamos em fazer algo pro mercado e sim tentamos satisfazer nossos sonhos e desejos. A música vem de compositores da banda e de amigos, se ela tocar nosso coração colocaremos no CD mesmo sendo loucura. Sempre estaremos esperando mais de nós mesmos, com certeza tem uma crítica para melhorar sempre.



Rafael Surforeggae: Agradecemos a todos pela entrevista, aproveito para dizer que respeitamos muito o trabalho da Namastê e sabemos um pouco do que já passaram e temos plena convicção de que podem ir muito mais longe. Vocês tem um talento muito grande e representam de forma majestosa o Reggae nacional. Deixem uma mensagem para os visitantes do Surforeggae.
Diego Bueno: Gostaria de pedir paz na terra, consciência, amor, invistam nas crianças, cuidem do planeta e que as pessoas dêem mais valor aos talentos brasileiros onde existe uma grande musicalidade que deve ser mostrada ao mundo. Um grande abraço aos membros do surforeggae - o site de "responsa"! E obrigado mais uma vez por sempre defender o reggae, amizade. Pesquisem no Surforeggae sobre Geraldo Carvalho! Tudo podemos naquele que nos fortalece! O sol nasce pra todos! Não desista! Jah Bless!


Fonte: Rafael Surforeggae





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