14/04/2003
Os Remanescentes: Som originalmente Jamaicano com Nengo Vieira, Marco Oliveira, Sine Calmon, Tintim Gomes, Valéria Leite e outros!
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Há várias maneiras de se cantar e fazer música brasileira e nas últimas décadas o reggae, originalmente jamaicano, tornou-se uma delas. A identificação com o ritmo e a possibilidade de expressar suas mazelas fez com que a juventude local adotasse e incorporasse definitivamente o reggae ao nosso caldeirão musical. Foi desse “caldo” que nasceu na década de 80 o grupo Remanescentes, fundado na Bahia por figuras importantes do nosso reggae nacional, como Nengo Vieira, Sine Calmon, Marco Oliveira e TinTim Gomes.

Originalmente formado por músicos da banda Studio 5, que acompanhou o cantor Lazzo Matumbi na gravação do compacto Guarajuba em 1982, o grupo surgiu da experiência comunitária vivida na residência de Nengo Vieira, em Salvador. Nessa época, o 53 (como era conhecida a casa) tornou-se uma espécie de albergue, onde conviviam e ensaiavam artistas como Jerônimo, Edson Gomes, Chico Evangelista, entre outros. Esse cenário foi criando um ambiente propício para a formação musical e espiritual do grupo, que achou providencial mudar o nome e o discurso de suas letras. O nome sugerido por TinTim Gomes foi inspirado em uma passagem da Bíblia, Romanos 9: 27, que diz: “Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo”.

Os Remanescentes foi um grupo alternativo comunitário que, segundo os seus ex-integrantes, tinha como objetivo levar a mensagem de amor incondicional proposto no evangelho através do reggae. Seus fundadores foram os cachoeiranos Nengo Vieira, Marco Oliveira, Sine Calmon e TinTim Gomes. A liderança ficou estabelecida e dividida entre os quatro, que faziam de suas casas em Cachoeira, suas congregações, onde reuniam-se com as famílias para a leitura e interpretação da Bíblia Sagrada e falar das questões sociais vividas no momento. O grupo era formado por oito pessoas que adotavam a estética Rasta, mas que tinham uma forma particular de apropriação da religião. Ao invés de idolatrarem o imperador etíope Hailê Salassiê, adoravam e tinham como salvador Jesus Cristo. Do Rastafarianismo, porém, adotaram além da estética, a influência total da Rebel Music e o hábito do consumo da Ganja.

A presença e influência deles foram responsáveis pelo dinamismo artístico e “explosão” musical do gênero na região que contou ainda com a colaboração dos conterrâneos/contemporâneos Edson Gomes e Dionorina (esse da cidade de Feira de Santana) e outros. O próprio Edson Gomes chegou a cantar na banda Studio 5, e mais tarde, Nengo Vieira, Marco Oliveira, TinTim e Sine Calmon fizeram parte da banda Cão de Raça. Durante algum tempo, Nengo Vieira foi guitarrista e arranjador dessa banda, sendo ainda parceiro de Edson na música Fala só de amor. Muitos dos solos de guitarra maravilhosos ouvidos nos primeiros discos de Edson foram criados pelo criativo Nengo.

Voltando a tratar do Remanescentes, é necessário enfatizar o quanto o grupo era respeitado em sua cidade natal e a influência que exerceu, e de certo modo ainda exerce, sobre a juventude local. Suas apresentações eram sempre prestigiadas e as fitas com gravações de ensaios e shows eram disputadas até mesmo na capital, pois durante a sua existência o grupo chegou a se apresentar em diversas cidades do recôncavo baiano e também em Salvador. O reggae feito pelos Remanescentes seguia o estilo roots jamaicano, que é o reggae que se fazia na Jamaica nas décadas de 70/ 80, também conhecido com reggae de raiz, com tempo 4/4, baixo na frente em tom grave, exploração melódica variada e incorporação máxima da bateria.

As letras, que traduziam bem o cotidiano dos excluídos, tratavam de problemas sociais, do amor incondicional e da esperança através das palavras espirituais. Apesar do Nengo Vieira ser o principal letrista, tanto as músicas quanto as letras eram tratadas com muita atenção e participação de todos. Os Remanescentes chegou a gravar um disco nos estúdios da WR, em Salvador, mas um tempo depois o grupo encerrou suas atividades. O álbum permanece inédito no mercado fonográfico, contudo algumas das canções que fizeram parte desse repertório foram gravadas nos discos dos seus integrantes.

Sine Calmon foi o primeiro a gravar: Roda Pião (Nengo Viera); Policiar sim, malícia não (Nengo Vieira); Mississipi blues (Sine Calmon), Basta Man (Nengo Vieira) e É demais (Sine Calmon). Nengo Vieira também gravou Roda Peão (Nengo Vieira) e Basta Man (Nengo Vieira). Desse mesmo repertório, Tim Gomes gravou Pelo amor de Deus (Nengo Vieira). O empresário Wesley Rangel (proprietário da WR, um dos melhores estúdios de gravação de Salvador), grande admirador do trabalho dos Remanescentes, tem uma frase que representa bem o que aconteceu com o término do grupo: “Remanescentes não acabou, Remanescentes floresceu”.

E foi exatamente o que aconteceu, existem 4 bandas dissidentes do Remanescentes e mais, foram formadas muitas bandas assumidamente influenciadas por esta geração de regueiros. A partir de meados da década de 90 os cachoeiranos passaram a se apresentar com mais freqüência em Salvador, mais especificamente no Pelourinho, em bares como o Novo Tempo, Babilônia, Creole Cajun e Hotel Pelourinho. Foi nessa época que começaram a se formar as bandas de reggae Diamba e Adão Negro e outros da nova geração em Salvador.

Assim, o trabalho dos Remanescentes continua vivo até hoje nas vozes de Nengo Vieira, TinTim Gomes, Marco Oliveira e Sine Calmon. Se o trabalho solo desses caras tem a qualidade que vocês conhecem, imaginem essas feras reunidas num só time! Os Remanescentes eram: Nengo Vieira (voz e guitarra), Marco Oliveira (voz e contra-baixo), Sine Calmon (voz e guitarra), Tin Tim Gomes (vocal) e Valéria (backing-vocal), João Teoria (trompete e bateria), Ito Bispo (saxofone), Augusto Conceição (trombone), Quinho (bateria), Júlio Santa (bateria), Beto (percussão) e Wilson Tororó (percussão). Para quem quiser conhecer um pouco mais dessa banda que, na minha opinião foi e muito provavelmente sempre será a melhor banda de reggae do Brasil, segue abaixo a discografia completa dos seus quatro band-leaders.

DISCOGRAFIA


 Sine Calmon
 Calmon, Sine. Fogo na Babilônia. ATRAÇÃO Fonográfica, 1997.
Calmon, Sine. Rosa de Saron. ATRAÇÃO Fonográfica, 1999.
Calmon, Sine. Eu Vejo. ATRAÇÃO Fonográfica, 2000.
Vários. Kaya no Reggae. Ravengar. BAHIA Discos, 2001.

 Nengo Vieira
Vieira, Nengo & Tribo D’Abraão. Somos Libertos. ATRAÇÃO Fonográfica, 1998.
Vários. Kaya no Reggae. Chegada. BAHIA Discos, 2001.
Vieira, Nengo. Mata Atlântica. INDEPENDENTE, 2002.

 TinTim Gomes
Gomes, TinTim & Manassés. Pedra Sobre Pedras. INDEPENDENTE, 1999.

 Marco Oliveira
Oliveira, Marco & Dystorção. Leve a Vida Numa . INDEPENDENTE, 2000.


Fonte: Bárbara Falcón





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