10/12/2003
Bárbara entrevista a banda Massai!
 
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Bárbara: Como foi que vocês se interessaram por música, se interessaram a tocar um instrumento?
Lúcio: Eu comecei a me interessar quando era muito novo, tinha uns dez anos de idade. Eu ouvi um disco dos Titãs, o Cabeça Dinossauro, e aquilo pra mim era muito novo, muitas guitarras, muita coisa que eu não estava acostumado a ouvir. Aí pintou a idéia de querer um violão, falei com minha mãe pra ela me dar um violão e ela me disse que só daria se eu fizesse aula. Porque ela achava que eu estava naquela por modismo ou que seria algo passageiro apenas. Só que aí eu peguei o violão e comecei a tocar. Tomei algumas aulas de violão clássico, uns 3 meses de aula, depois comecei a tirar de ouvido. Aí entrei em contato com o rock n’ roll dos anos setenta e metal. Pouco tempo depois conheci a música de Chico Buarque de Holanda, o que me influenciou muito também. Pedi uma guitarra de aniversário, aí minha vó me deu essa guitarra, era uma Dolphin preta, usada e bem surrada. Comecei a tirar música de ouvido. Depois eu tive um trio, um power trio na verdade, porque era: eu na guitarra, outro brother no baixo e outro na bateria. Daí a gente foi fazendo as músicas que a gente gostava, foi fazendo o som. E essa banda foi a minha grande escola, porque só tinha uma guitarra e eu tinha que fazer muitas coisas, eu tinha que estar concentradíssimo. Para mim durante quase dois anos, foi uma escola mesmo.

Bárbara: E qual era o tipo de som que vocês faziam nessa época?
Lúcio: Era rock ‘n roll mesmo.

Bárbara: Por causa da influência das guitarras.
Lúcio: Rock ‘n roll em geral, abrangendo todas as suas subdivisões. Estilo pesado, Led Zepelin, Deep Purple, Black Sabbath aquela coisa pesada do Metallica. Além de Hendrix, Janis Joplin, Jethro Tull, Pink Floyd, The Clash, Tha Police, Raul Seixas... Depois eu fui me interessar pelo reggae, conheci Bob Marley, depois conheci Peter Tosh, Burning Spear, Black Uhuru, Soul Syndicate, Steel Pulse, Aswad e inúmeros outros artistas do reggae.

Bárbara: Começou a se interessar pelo reggae também.
Lúcio: Hoje em dia eu me interesso por tudo. Rock, reggae, baião, blues, jazz, samba, hip-hop, salsa….. Se você perguntar qual é o meu estilo preferido de música, é mais fácil eu dizer o que eu não gosto do que o que eu gosto.

Bárbara: E Alex, como foi que você começou a se interessar por música, por tocar um instrumento?
Alex: A música pra mim começou com meu pai. Meu pai tocava violão quando eu morava em Ilhéus, fazia shows. Teve um reveillon que ele montou uma banda pra tocar em Olivença.

Bárbara: Banda de baile?
Alex: É, banda baile. Eu era novo, mas ficava vendo os ensaios e tocando, batucando. Aí ele falou: “Pegue a percussão ali”. Aí todo mundo gostou e eu fiquei na percussão. Depois eu peguei bateria, violão, contrabaixo. Lá no colégio Maristas, onde eu estudei, teve uma banda evangélica chamada Renovar, eu comecei a fazer baixo lá. Não tinha baixista e eu comecei a fazer um trabalho de improviso, viu? Fiz baixo nessa banda evangélica dos Maristas. Aí desse dia em diante eu comecei a tocar. Conheci João, aí depois veio Iuri, a gente formou uma banda de reggae, aí mudamos a formação. Conhecemos Marquinhos...

Bárbara: Como foi que vocês conheceram Marcos, o vocalista?
Alex: Teve uma gincana no Serravale, um colégio público aqui de Salvador, onde a gente tocou acompanhando Duda, vocalista da Diamba e Serginho do Adão Negro. Foi uma banda montada pra acompanhar essa galera.

Bárbara: Em que ano isso, você se recorda?
Alex: Em 98. A gente formou a banda pra acompanhar Duda e Serginho, eu no baixo, Iuri na bateria e João na guitarra. Aí chegando lá, um amigo que montou a bateria falou que tinha um rapaz de São Caetano, um rasta e um tecladista, um argentino. Tinha esse negão rasta que cantava, mas faltava ainda a bateria, a guitarra e o baixo. E a gente estava precisando de um vocal e teclado, aí encaixou perfeitamente. A gente foi pra São Caetano, bairro periférico de Salvador, e começou a ensaiar na casa de Marquinhos. Aí a banda começou, o nome era The Massaia, já que um jamaicano morador local, amigo de Marquinhos, chamava ele de Massaia em referência a Marcus Mosiah Garvey, grande líder negro jamaicano, pregador da ideologia do Pan-Africanismo, que sustentava a idéia de que todos os negros residentes fora da África deveriam retornar a este continente-mãe. Bob Marley retratou isto muito bem na canção Exodus. Na mesma época tinha uma banda se formando aqui na Pituba, que era Mosiah. Ou seja, a sonoridade da palavra era muito parecida. Aí eu falava pra Marquinhos: “Rapaz, tem uma banda na Pituba que é Mosiah, esse nome não rola”.

Bárbara: E o Lúcio entrou quando?
Alex: Lucinho veio depois. Uns dois anos depois. A gente já tocou junto, eu fiz som com ele no Skareggae, em alguns lugares.

Lúcio: Ele falou comigo do reggae que ele estava fazendo com a, até então, Massaia e tinha um ano que eu não tocava, tava parado, pois a banda Skareggae, antiga Lion Roots, havia terminado. Ele aí falou: “Vá lá em sua casa pegar a guitarra”. Eu estava completamente despreparado, meio inseguro, mas mesmo assim topei. E não me arrependi. Eu me amarrei no som dos caras, no repertório, na performance da galera. Foi minha primeira apresentação com eles.

Bárbara: E qual era o repertório nessa época?
Lúcio: Uma coisa que me marcou muito, que eles tocaram, que na época nenhuma das bandas em Salvador tocava, que foi Steel Pulse. Era uma banda que na época eu não conhecia tanto, mas a música que rolou, Reggae Fever, eu conhecia e era uma música que particularmente me tocava. E eles lançaram essa, fora as músicas da banda e algumas de Bob Marley, mas essa, em especial me tocou. Tanto que a banda até hoje toca e ficou assim a cara da banda.

Alex: Nós conhecemos Lucinho, ele entrou, a galera gostou muito de Lucinho. Aí saiu um tecladista, entrou outro tecladista. Aí ficou a formação que tá até hoje: Marcos – vocal, Alex – contrabaixo, Lúcio – guitarra, João – guitarra, Iuri – bateria e Michael na percussão.

Bárbara: Quando o trio João/Iuri/Alex encontrou Marcos a proposta já era fazer reggae realmente?
Alex: Era.

Bárbara: Por que a opção pelo reggae?
Alex: Porque a gente gostava de reggae, nós somos regueiros, entendeu? A gente gosta do reggae mesmo, do reggae jamaicano.

Bárbara: Como é que vocês começaram a ouvir reggae? Antes de começar a tocar, experimentando, como é que vocês começaram a ouvir? Quem mostrou o reggae pra vocês?
Alex: Iuri, porque ele é colecionador. Você vai na casa dele tem disco de Black Uhuru, Third World, Soul Syndicate, Midnight, Red Meditation...

Bárbara: Bem, como o Iuri mora na cidade baixa, que é uma área dos regueiros, alguém deve ter mostrado o som pra ele.
Alex: Tem muitas pessoas na cidade baixa que colecionam reggae. Lá é um celeiro de músicos e de regueiros. A gente não deve nada ao Maranhão, porque aqui a gente escuta reggae mesmo.

Bárbara: Então era Iuri que apresentava as novidades a vocês?
Alex: Iuri e Marquinhos Massai. Marquinhos Massai me apresentou Steel Pulse, que eu não conhecia.

Bárbara: Nessa época vocês tiveram contato com o material do pessoal do recôncavo, de Cachoeira?
Alex: Claro, Remanescentes. Na época eram fitas, né? Tinha muita fita. Tinha até fita de ensaio da Diamba.

Bárbara: Vocês iam ao Pelourinho, nos ensaios de Sine no Novo Tempo?
Lúcio: Eu ia pro Pelourinho ver Sine Calmon e banda Morrão Fumegante e aquilo ali foi uma forte influência pra eu começar a tocar reggae.

Alex: Eu morava em Ilhéus nessa época, não tinha esse visão de reggae ainda. Só conhecia Bob Marley mesmo.

Bárbara: E o material da Remanescentes chegou como em suas mãos?
Alex: Através de uma fita na Ilha de Itaparica, com o pai de um brother meu. Tinha Remanescentes e uma outra banda do Recôncavo, que fazia versões de Gregory Isaacs. Nessa época já tinha Bem Aventurados, banda esta que hoje, talvez seja uma das mais fiéis ao reggae roots aqui de Salvador. Eu toquei com um rasta do Bem Aventurados, chamei João pra acompanhar ele, mas não deu certo. A gente experimentou muito até chegar a Massai.

Bárbara: Vocês acompanharam o surgimento de bandas soteropolitanas como Diamba e Adão Negro?
Lúcio: Naturalmente. As duas são influência à todas as outras bandas novas que surgiram até então. A Diamba já nos ajudou, inclusive.

Alex: Eu ouvir falar da Diamba lá em Ilhéus, em 96.

Lúcio: Eu tive uma banda em que dela saíram três bandas, o nome da banda era Lion Roots, depois passou a ser Skareggae. A gente tocava no Babilônia – Pelourinho e no Novo Tempo. O grande show da banda foi abrir pra Diamba em Alagoinhas, aí Alex fez a participação com a gente na guitarra, já que nosso outro guitarrista já tinha saído da banda. Nessa banda havia membros das atuais bandas Mosiah, Scambo e Massai. E tinha o vocalista que tem uma banda que hoje se chama Lion Soul. Quer dizer, dessa banda surgiram mais quatro.

Bárbara: Quem eram esses caras?
Lúcio: Alexandre, guitarrista da Scambo; Márcio, percussionista da Mosiah; eu, guitarrista da Massai e Sandro, vocal da Lion Soul. Sem falar de Marcão, percussionista da Mano Véio, que por um tempo também tocou nessa banda. E o baterista toca em uma banda daqui de Salvador chamada Soma, que eu soube que está tocando em festivais alternativos pelo país. Então eu acompanhei bem de perto, até por ter tido esses caras ao meu redor. Quando a banda estava no final cada um já dizia pra onde é que iria, entende? Eu lembro que Alexandre falava muito da Scambo. Márcio já comentava da Mosiah também. Eu acompanhei bem de perto e quando essas bandas começaram a tocar eu ia no som deles, assim como vou até hoje. São todos meus amigos.

Alex: E a Diamba e Adão Negro abriram espaço pra galera, mas antes disso, Sine Calmon, que estourou no Carnaval de Salvador.

Bárbara: Serginho tocava com Sine na Morrão Fumegante, né? Adão começou com músicos da Morrão Fumagente: Artur Cardoso, Vitor Hugo, Raimundo Guabiraba e Serginho. A formação mudou depois por conta dos compromissos da Morrão Fumegante, que na época fazia muitos shows. As primeiras apresentações da Diamba eu acompanhei também, o som que os meninos faziam lá no Bar de Adm (Faculdade de Administração da UFBa). Agora eu faço a clássica pergunta sobre o nome da banda. Como foi que surgiu?
Alex: O nome Massai vem da tribo africana. Surgiu porque antes o nome da banda era The Massaia, como já explicado.

Alex: Ele queria chamar Marquinhos de Mosiah, em alusão a Marcus Garvey, mas com o sotaque dele de jamaicano, saia Massaia. Aí a gente resolveu colocar esse o nome da banda.

Alex: Tinha um amigo de Marquinhos, que fazia filosofia, que deu a idéia de colocar Massai. Massai, a tribo guerreira que tem tradição de matar leões, quando alcançam a maioridade matam leões e o leão, todos sabemos, é um dos símbolos do reggae.

Lúcio: Sim. Leão que representa a bravura também. Porque nós formamos uma banda independente e pra ser uma banda independente tem que ser bravo, tem que matar um leão todo dia, resistência pura.

Bárbara: Eu quero saber o que cada um traz de diferente e especial e que forma a unidade que é o som da Massai?
Lucio: Iuri é o mais fiel de todos ao reggae. Eu já trago o rock n´roll, um pouco de blues e jazz; João também no rock; Allex é mais a MPB; Marquinhos mais Soul e Michael é mais sons regionais mesmo, de raiz. Em comum: o amor pelo reggae.

Alex: Eu aproveito pra falar um pouco da trajetória de Marquinhos Massai. Ele descobriu que cantava tarde, começando a fazer som em Cachoeira no Recôncavo, com a banda Só as Cabeças. Marquinhos cantava as músicas em inglês, de Bob Marley. Ele era careca, nessa época. Começou a cantar, depois veio pra Salvador, tocou em São Caetano. Quando rolou a reunião no Serravale, colégio aqui de Salvador, a gente se conheceu. A gente fez os arranjos das músicas A bala, Greve, Natural Beleza, entre outras. Uma das mais novas canções da gente chama-se Cante pra MPB, que é o lance da galera pegar MPB e misturar com reggae. Aí foi quando Marquinhos surgiu com a galera e começou a fazer o trabalho. A gente tem realmente essa fusão da MPB com o Reggae, curtimos muito isso. Respeitamos muito a galera da Natiruts, que tem essa proposta também... Você percebe isso através das composições e arranjos dos caras.

Bárbara: Quem compõe na Massai?
Alex: Eu faço algumas músicas, Marquinhos faz também.

Bárbara: Me fale um pouco das músicas.
Alex: Eu fiz Natural Beleza, Você Já era, Quem dera; de vivências que eu tive e as de Marquinhos, A bala, Levada do Recôncavo, porque ele morou lá e a Levada, na verdade, é o nome de uma Cachoeira que tem lá no Recôncavo baiano que ele sempre falou pra gente, aí fez a música. Tem Greve, de um amigo nosso, o Julião Rasta, que mora no Gantois, bairro aqui de Salvador; Eu sou luz é de um brother nosso de 40 anos, que é Hari Krishna, filosofão, só passa positive vibrações se você conversa com ele. Tem uma música atual chamada Efeito Colateral, que é de um amigo nosso, que a gente tá trabalhando. Tem umas músicas novas, onde todo compõe.

Bárbara: De que falam essas músicas novas?
Alex: De crítica ao sistema, de amor, poesia, uma mistura bem positiva. Das nossas vivências...

Bárbara: Saindo das letras para a música, o que cada um traz de influência musical pra banda?
Lúcio: Eu acho que a influência musical se funde com a experiência de vida de cada um. Da minha parte, a minha pegada é mais blues, porque eu ouço muito blues, muita música brasileira, Djavan, Chico Buarque de Holanda, principalmente. Também jazz, rock ‘n roll e reggae roots também.

Alex: A galera, por ser baiana, tem uma musicalidade muito forte que vem da MPB, do samba, do axé.

Bárbara: Mas o que você ouve que influencia nas suas composições?
Alex: MPB, principalmente Gonzaguinha, João Bosco...

Bárbara: E dentro da banda, como funciona o processo de criação musical?
Alex: Geralmente as músicas que eu faço já vem com melodia, aí vem outro e faz um solo, todos contribuindo com idéias nos arranjos.

Bárbara: O processo é coletivo?
Alex: É coletivo. As músicas já vêm com as notas, com tom e letra, aí cada um vai fazendo um arranjo, na coletividade mesmo. Bateria geralmente eu falo o beat pra Iuri... Já são 5 anos tocando juntos.

Bárbara: Me falem da participação de vocês na coletânea Kaya no Reggae?
Alex: Foi muito importante porque o reggae naquela fase tava muito bom. Salvador tinha muitas festas de reggae e tava tendo uma união. Foi bom pra divulgar a música da Bahia, porque aqui é a capital do reggae. A coletânea Kaya no Reggae foi importante pra registrar esse momento que a gente estava vivendo aqui.

Lúcio: A nossa música entrou e a música de bandas também em ascendência como a banda Naya. Foi especial porque no momento tinham várias bandas, novos e velhos, rolou uma fusão de experiência com novidade, entendeu?

Alex: Só faltou mesmo a mídia abrir mais os olhos pra o que estava acontecendo, não foi dada a devida importância, por ser a música reggae.

Lúcio: Seria até bom pra desmistificar a falsa idéia de que a Bahia é a terra do Axé e do Pagode. Quem vive aqui ou até mesmo quem vem de fora e tem mais contato com as bandas do lugar, percebe que a Bahia não é só Axé e Pagode, não querendo menosprezar esses estilos, mas eu acho que deve haver uma democratização sincera da mídia, de todas as vertentes porque a Bahia é um celeiro musical.

Bárbara: Me falem um pouco mais desse momento. Havia uma união de novos e velhos, acreditava-se que a partir disso algo de bom iria acontecer?
Alex: Acreditamos nisso porque a Kaya no Reggae é uma coletânea da Bahia Discos, um empresa da Rede Bahia, que é filial da Globo. Quando eles pegaram a música reggae, que é uma música discriminada, relacionada à maconha, com uma imagem deturpada e viram que no reggae há uma luz, um movimento, resistência, letras e musicalidade, parecia que havia uma luz no fim do túnel... E para uma emissora como a Rede Bahia fazer uma coletânea foi muito bom, ainda mais porque foi distribuída em todo o Brasil pela Som Livre. Então fica aqui uma sugestão pros amigos que visitam o site Surforeggae: procurem o disco Kaya no Reggae e julguem por vocês mesmos a quanto anda a musica reggae feita hoje na Bahia... Vocês poderão conferir grandes bandas como Edson Gomes, Nengo Vieira, Diamba, Mosiah, Adão Negro... Apesar de algumas boas bandas terem ficado de fora como é o caso da promissora banda Zuluz.

Bárbara: Eu quero saber porque há uns anos atrás, antes de vocês começarem a tocar, a classe média não gostava tanto assim de reggae, ou o reggae não chamava tanto a atenção da classe média.
Lúcio: Na verdade nunca tinha chamado.

Bárbara: Com que olhos vocês vêem o súbito interesse da classe média branca pelo reggae? Vocês acham que é um interesse verdadeiro ou modismo?
Alex: Eu sou muito radical quanto a isso, porque eu acho que é mais curtição, a galera que ir na “modinha”.

Lúcio: É verdade, eu acho que a minoria está interessada na música, embora não devamos generalizar, pois toda forma de generalização é injusta.

Alex: É mais porque a moda está inclinando pra lá, “vamos pra lá”. É modinha e você vê que tem muita gente que faz as festas, ganha milhões de reais com a galera do reggae e não rola um retorno. Por exemplo, podia ter uma pessoa da Central Reggae aqui na Bahia, fazer um movimento e expandir pro Brasil, mostrar que a Bahia é um celeiro do reggae: Edson Gomes, Nengo Vieira, Sine Calmon, Diamba, Massai, Mosiah, todo mundo que faz reggae. Outras que estão começando agora como Skaypora...

Bárbara: Existe uma rivalidade então?
Alex: Não existe a união que tinha com Jacob Miller e Bob Marley, de fazer festival de música junto, de gravar um no disco do outro, de viver junto.

Lúcio: Eu nasci em Porto Alegre e quando eu volto lá fico assim meio com inveja, aquela inveja positiva sabe? Porque a união do pessoal lá é verdadeira mesmo. Aqui o que a gente observa é a imposição de certos produtores e empresários em só tocarem certas bandas, ficou até uma coisa forçada e o próprio público percebeu, exceto o público da modinha, pois pra esses o que menos conta é a música, o que mais vale pra eles é aparecer e tirar onda que curte reggae, que fuma maconha, que faz e acontece, etc. Em contrapartida os músicos são super unidos e sei que se dependesse só de nós músicos haveria espaço para todos mesmo, a única exigência seria que as músicas fossem feitas com amor e que fossem músicas de qualidade... Por isso eu gostaria de citar aqui algumas bandas, apenas algumas, é bom frisar, que em nossa humilde opinião, andam com um trabalho musical de reggae de qualidade, independente de qualquer coisa. Seriam elas: Zuluz, Mosiah, Scambo, Diamba, Adão Negro, Edson Gomes, Dionorina, Nengo Vieira, Sine Calmon, Los Baganas, Bem Aventurados, Red Meditation, Dedo de Hulk. A Diamba e a Mosiah, inclusive, já nos ajudaram...

Alex: Eu não quero citar nomes aqui, mas tem banda que só gosta de estar nas melhores festas, não detém a verdadeira essência do reggae. O reggae não veio das classes altas. O reggae na Bahia ter que ser uma ONG, se envolver com trabalho assistencial, com doação de alimentos, ir às creches, ajudar. A gente tem que usar esse dom pra ajudar.

Bárbara: Eu acho que com o surgimento das bandas de classe média houve uma “elitização” do reggae.
Lúcio: Mas a gente não pode perder de vista que isso também foi positivo por um lado. A mídia abriu mais espaço, apesar de ainda não ser o espaço que nós merecemos. Ter bandas de reggae tocando no Festival de Verão era impossível há uns anos atrás. Quem sabe já não rola até tocar no palco principal do evento...

Alex: O reggae é uma música difícil, a mídia não abre espaço para o reggae, então nós temos que aproveitar esses momentos da melhor maneira. Teve a Natiruts também que a gente tem que falar, porque eles abriram as portas, Sine Calmon também.

Bárbara: A gente deve lembrar que a Natiruts nasceu mais ou menos no mesmo momento que a Diamba e depois a Adão Negro, meio que sem saber um da existência do outro. Lembrando ainda que isso foi muito legal porque Brasília não tem nenhuma tradição em fazer reggae, como Salvador e São Luís.
Alex: Eu ouvi uma coletânea legal, O Reggae do Cerrado, e as bandas de lá tem uma pegada bem roots, o movimento lá é forte. E nós somos novos nisso, temos 5 anos. Tem o Dionorina que tem mais de 20 anos no reggae, que pode falar perfeitamente como funciona isso. Edson Gomes...

Bárbara: Além do reggae, que outro movimento musical vem chamando a atenção de vocês em Salvador?
Alex: O movimento que vem chamando a minha atenção mesmo e que eu gosto é o movimento alternativo, que tem muitas coisas boas. Salvador é rica em musicalidade, do jazz ao blues, do rock ‘n roll ao maracatu, forró...

Bárbara: Você pode citar algumas bandas?
Alex: Posso sim. Mano Véio, Zaccatimuana...

Lúcio: De jazz tem Os Melódicos, que eu me amarro, de rock ‘n roll tem Retrofoguetes, que toca Surf Music de primeira e não deve nada a nenhuma banda gringa; de forró tem Forró no Kilo, que é um grupo que resgata o pé de serra fazendo uma junção com o reggae, apelidado de forreggae. Essas novidades a gente não pode deixar de citar. De rock ‘n roll também tem Nancyta, Rebeca Mata e claro, não poderíamos deixar de citar a Pitty, que já ralou muito aqui em Salvador até chegar onde está.

Alex: O cenário alternativo de Salvador é muito rico.

Lúcio: Se o Brasil souber o que tem aqui não vai acreditar. Pra quem acha que aqui só tem pagode...

Bárbara: E no resto do Brasil, o que vem chamando a atenção?
Alex: O Rappa, Nação Zumbi...

Lúcio: O Rappa e o Los Hermanos hoje em dia pra mim são as bandas mais honestas consigo mesmas e com os fãs e por isso estão entre umas das mais elogiadas hoje. Marcelo D2 também.

Alex: Marcelo D2, sempre fui fã dele, agora sou mais ainda, porque ele tem feito super bem a junção do hip hop com o samba. Tem muita gente boa.

Bárbara: E do reggae?
Lúcio: Mystical Roots do Maranhão e Macucos do Espírito Santo. Bandas maravilhosas que tivemos a oportunidade de tocar juntos em Itacaré, sul da Bahia e desenvolver uma amizade. A galera da Mystical, por exemplo, viraram nossos amigos mesmo, ficaram em nossas casas em Salvador, íamos levar os caras nas festas, apresentamos os regueiros locais... Foi uma curtição! Macucos teve aqui em Salvador no Festival de Verão de 2003 e a gente se encontrou, foi aquela alegria... O Fred e o Júnior Barriga são caras muito gente fina!

Alex: Mystical Roots, claro.

Lúcio: A Natiruts está com um trabalho mais maduro, tive a oportunidade de conversar com o Alexandre a respeito disso. A Tribo de Jah, eu me amarro porque eu acho que é uma banda que tem uma forte influência jamaicana, tanto no aspecto musical quanto visual e filosófico também. Conhecemos Fauzi em Itacaré, conversamos um pouco e ele tem um estilo totalmente Zen, sacou? Ele tem uma experiência de vida que tem tudo a ver com o reggae que ele mostra.

Alex: É uma banda consagrada, com um trabalho consistente.

Lúcio: Só temos agradecer a essas bandas que trabalham e metem a cara, porque assim a gente se espelha no exemplo deles e percebe que pode chegar lá também.

Alex: Com certeza a gente já conta com a ajuda deles e acho que se eles puderem ajudar, vão ajudar.

Bárbara: Eu quero saber quais são os planos da banda pra 2004.
Lúcio: A gente vai gravar agora um cd demo, com músicas novas. A gente está vendo os arranjos, finalizando algumas, vamos começar a gravar em dezembro agora.

Bárbara: Me diga o nome dessas músicas, só pra gente sentir o que vem por aí.
Lúcio: Natural Beleza, Você Já era, Efeito Colateral, Cante pra MPB...

Alex: Essa música fala da influência da MPB, do reggae cantando pra MPB, é uma fusão sem preconceito de um estilo com o outro.

Lúcio: Outras músicas: A bala, Quem dera, Levada do Recôncavo...

Alex: Tem uma música nova que a gente tá fazendo arranjo que é O feitiço das Estrelas, que fala de um romance do sol e da lua, tipo Natural Beleza, musicalmente falando. Tem muitas músicas novas que vão surgir que a galera vai gostar mesmo. Em breve estaremos no Sul pra mostrar o reggae da Bahia.

Bárbara: Como vocês definem o som que a Massai faz pra galera que não conhece a banda?
Lúcio: O som que a Massai faz é um som feito com amor, sinceridade, honestidade, até porque a gente poderia fazer mil coisas, mas optamos por isso porque é o que a gente gosta. A gente promete que a galera vai dançar, se informar e se divertir com o nosso som.

Alex: Falando da musicalidade, é um reggae roots melódico, com pitadas de rock ‘n roll, pra frente. É perceptível em nosso som a fusão do Reggae, inclusive o dub, MPB, rock e ninguém costuma ficar parado, pois a energia da galera no palco é também muito positiva, aliada a um repertório cuidadosamente elaborado e bem dançante.

Lúcio: Com pitadas de rock ‘n roll, mas não tem nada de pop, do ponto de vista negativo que esta expressão às vezes leva. É pop no sentido de congregar diversos estilos musicais.

Alex: Nós somos muito influenciados por Black Uhuru, Steel Pulse, Third World. Quem conhece essas bandas vai notar que o nosso som tem muito disso. A gente busca essa pegada.

Bárbara: Vocês têm algo mais a dizer pra galera que acessa o SURFOREGGAE, alguma mensagem da Massai?
Lúcio: A mensagem que nós da Massai queremos deixar é que a galera de todo o Brasil que acessa o SURFOREGGAE abra a mente para a nova musicalidade que está surgindo na Bahia, especialmente o reggae, que na verdade já vem há uns 8 anos reformulando o conceito musical da Bahia. Quanto mais gente se deparar com esse tipo de som e divulgar, pra o seu vizinho, pra o seu amigo, pra o seu pai e pra seu filho, melhor pra todos nós, porque a música é uma coisa maravilhosa. Você ouve uma música e quando gosta dela você quer dividir com alguém.

Alex: E outra coisa, frisar que o reggae não é modismo. O reggae é essência, o reggae é música e universal.

Lúcio: Os planos da banda pra 2004 incluem uma descida pra o sul, Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba. Eu nasci em Porto Alegre, sempre passo férias lá, então já percebi que a galera é super receptiva pra o reggae baiano, principalmente. Qualquer coisa da Bahia lá e eles já estão super felizes. A Capoeira lá faz o maior sucesso. Então a gente está combinando pra descer em janeiro ou fevereiro pra Porto Alegre, tocar com algumas bandas locais e quem sabe com algumas bandas de fora. No dia 30 de dezembro tocaremos junto aos amigos da Adão Negro em Itacaré e devemos fazer mais algumas apresentações por lá antes de ir ao Sul do país. No mais toda a Banda Massai gostaria de deixar um grande abraço a todos, amantes da boa música!


Fonte: Bárbara Villar








 
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